um ano após mariana

Governo confirma 10 mortos e mais de 300 desaparecidos em Brumadinho

folhapress

Foto: Fábio Barros/Agência F8/Folhapress)

O governo de Minas Gerais confirmou que 10 corpos foram encontrados entre os rejeitos da barragem que se rompeu em Brumadinho (MG) na sexta-feira pela manhã. As vítimas ainda não foram identificadas. O número de mortos tende a aumentar na medida que o trabalho de resgate avança no local.

Segundo o governo mineiro, nove pessoas foram retiradas da lama com vida e cerca de 100 pessoas que estavam ilhadas foram resgatadas. A Vale informou ao governo que havia 427 pessoas na mina, 279 delas resgatadas com vida. 150 pessoas ainda estariam desaparecidas.

_ No momento, a grande medida é ver sobreviventes, e informar às famílias dos atingidos _ disse o governador Romeu Zema (Novo), segundo nota do governo. Cerca de 2.000 pessoas estão sem energia na região.

Conforme o relato da jornalista Juliana Bublitz, de Zero Hora, na Rádio Gaúcha, a situação é dramática no local. Famílias desesperadas buscam parentes que trabalhavam na área do rompimento. Juliana está no local e acompanha o trabalho de resgate.

O presidente Jair Bolsonaro anunciou que vai sobrevoar a área neste sábado para tomar medidas cabíveis. 

A tragédia acontece três anos depois da tragédia de Mariana, também em Minas Gerais, onde outra barragem da Vale rompeu e matou 19 pessoas.

RESGATE DE SOBREVIVENTES
Grupos de brigadistas e voluntários atuam desde o início da tarde de sexta no resgate e amparo das vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Pelo menos dois grupos de brigadistas civis, que costuma atuar no combate a incêndios no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, seguiram para Brumadinho logo no início da tragédia e percorreram a região em busca de sobreviventes.

Um dos grupos atuou no resgate da família de Kelly Rodrigues Trindade, que saiu de casa às pressas e ficou ilhada junto com os pais e três sobrinhas pequenas no alto de um morro. Ela conta que foi avisada do rompimento da barragem por uma vizinha pelo telefone. Ao sair de casa, viu uma grande poeira e uma onda de lama passar a cerca de 100 metros da residência:

_ Na hora só pensei em correr junto com as meninas _ diz Kelly.

Após horas de espera em cima do morro, a família foi encontrada pela brigadista Christiane Moreira e resgatada com ajuda de outros voluntários. Christiane conta que os brigadistas enfrentaram grande dificuldade para acessar o local perto do acidente.

_ Quando a lama chegava no alto da coxa, a perna paralisava. Impedia qualquer movimento - diz.

Outros grupos de voluntários ajudaram no amparo às famílias que ficaram desabrigadas ou estão com parentes desaparecidos. A produtora de eventos Flávia Simão improvisou um abrigo em uma escola da rede pública municipal de ensino para acolher os desalojados logo após o rompimento da barragem.

A mobilização ocorreu por meio de redes sociais. Em pouco tempo, colchões, água e comida foram encaminhados ao local. No início da noite, após passarem toda a tarde no local, a Vale encaminhou 16 desabrigados para algumas pousadas da região.

Gente sem ter para aonde ir chega a todo instante na escola Carmela Caruso Aluotto, localizado no bairro de Casa Branca.

_ Grande parte do pessoal foi levado, mas está chegando gente o tempo todo. Precisamos de uma ambulância aqui _ afirma.

O centro comunitário de Brumadinho, no centro da cidade, também tornou-se o principal ponto de encontro e apoio às famílias de mortos, feridos e desaparecidos com o acidente da barragem.

Alimentado por um gerador, é um dos poucos pontos da cidade onde há energia elétrica na cidade na noite desta sexta-feira (25). Água mineral, lanches e quentinhas foram distribuídas por equipes da Vale.

TRAGÉDIA ANUNCIADA
A ata da reunião extraordinária do órgão ambiental de Minas Gerais que aprovou em dezembro, de forma acelerada, a ampliação das atividades do complexo Paraopeba, que inclui a mina Córrego do Feijão, mostra que o risco de rompimento, que acabou ocorrendo nesta sexta, foi objeto da discussão.

Em 11 de dezembro de 2018 reuniu-se extraordinariamente a Câmara de Atividades Minerárias, na sede da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, para deliberar sobre a licença para a continuidade das Operações da Mina da Jangada e a continuidade das operações da Mina de Córrego do Feijão.

Após ampla e acalorada discussão, com manifestação contrária da comunidade local por causa de possíveis abalos hídricos, representantes do governo estadual e das empresas aprovaram com folga as licenças: 8 votos contra 1, com 1 abstenção.

O representante do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Julio Cesar Dutra Grillo, justificou a abstenção citando ações que considerava corretas por parte da empresa, mas fez um alerta.

_ Esse projeto traz algumas novidades positivas. Uma delas é o descomissionamento [eliminação] de uma barragem de 10 milhões que está acima de Casa Branca. A população de Casa Branca está preocupada com muitas coisas, com toda razão, mas não manifesta preocupação sobre aquilo que eu considero que é potencialmente o maior problema de Casa Branca _ disse Grillo.

"O que é esse problema? Casa Branca tem algumas barragens acima de sua cabeça. Muita gente aqui citou o problema de Mariana, de Fundão, e vocês têm um problema similar. E ali é o seguinte, essas barragens não oferecem risco zero. Em uma negligência qualquer de quem está à frente de um sistema de gestão de risco, aquilo rompe. Se essa barragem ficar abandonada alguns anos, não for descomissionada, ela rompe, e isso são 10 milhões m³, é um quarto do que saiu de Fundão, inviabiliza Casa Branca e inviabiliza ao menos uma das captações do Paraopeba", acrescentou.

Mais cedo, ele havia dito que qualquer projeto de mineradora que cai no órgão é aprovado porque os ambientalistas são minoritários.

A aprovação, com um licenciamento único e mais rápido, foi obtida através de uma diminuição do potencial de risco da barragem.

O licenciamento deveria ter sido realizado em três fases -de licença prévia, de instalação e de operação-, mas foi feito de uma só vez. Isso porque a mina Córrego do Feijão era tida como classe 6, com maior potencial poluidor e, por isso, necessitando um licenciamento ambiental trifásico. Ao passar para classe 4, pulou etapas de licenciamento.

_ Sobre essa questão da classe 4 e do licenciamento ambiental concomitante em uma única fase, o nosso parecer de vista apontou trechos do Parecer Único da Suppri [Superintendência de Projetos Prioritários], que claramente demonstram que essa ampliação e continuidade da Mina da Jangada, concomitante com Córrego do Feijão, é para até 2032, um incremento de 88% na produção. Eu nem tenho a palavra certa para falar, mas é abominável que tenhamos hoje esse empreendimento como classe 4, quando sempre foi classe 6 _ reclamou Maria Teresa Viana de Freitas Corujo, do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc).

Ela foi o único voto contrário às licenças. Segundo Curujo, a proposta não era de eliminação da barragem, mas de incremento de continuidade das minas Jangada e Feijão.

Rodrigo Ribas, superintendente da Suppri, rebateu as críticas de forma contundente.

_ Senhor presidente, a equipe técnica terminou aqui a sua manifestação, e eu quero fazer um breve desabafo. Nós somos funcionários públicos, nós servimos à sociedade. Atualmente, nos últimos dois anos e pouquinho, nós temos servido à sociedade com os salários parcelados. Para o senhor saber, a minha equipe não recebeu o salário de novembro. Então, é extremamente desagradável que as pessoas, de maneira irresponsável, vil, cruel, cheguem para uma equipe sensacional, bacana, que está aqui em todas as reuniões disposta a discutir todos os pontos técnicos, todos os pontos políticos, todos os pontos jurídicos com quem quer que seja, e chamem a minha equipe de criminosa _ disse, se referindo a relatos de participantes da reunião.

Segundo ele, o processo de licença foi plenamente analisado e tratava-se de uma ampliação de um descomissionamento de barragem.

_ É um reaproveitamento de rejeito em barragem. (...) E aí vem um projeto que se propõe a apresentar um ganho ambiental a partir de inversão tecnológica, e nós vamos discutir aqui com base no acidente de Mariana. São casos completamente diversos. Nós tivemos muita tranquilidade naquele parecer que elaboramos e estamos muito seguros em relação a ele _ disse o técnico.

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